Dizem que momentos épicos acontecem em lugares memoráveis, onde privilegiados entram para a história por presenciarem estas ocasiões e relatarem às futuras gerações os fatos ocorridos, sem perder os melhores detalhes.
As pessoas que estavam presentes nunca esquecerão o dia, tenho certeza disto, que se orgulharam de ser palmeirenses, mesmo sendo o Palmeiras B, na A3 do Paulistão, diante do Juventus, em uma Rua Javari, por uma virada histórica, aos 44 do segundo tempo, por meio do “goleiro”, que de nada era goleiro, Diogo e seu chute de 100m de distância da meta de Luiz Gustavo, arqueiro juventino, explodindo de alegria cerca de 100 palestrinos naquela tarde.
A angústia sempre foi o clima do jogo, desde seu início com o gol do Juventus, além de uma escancarada ajuda da arbitragem para o time da Mooca, por meio de saída de bola do goleiro, pênalti escandaloso, provocando toda ira da torcida no alambrado, muito próximo ao gramado, além da diretoria que fazia juras ao bandeirinha.
No intervalo aconteceu de tudo, desde a diretoria querendo pegar o juiz, passando pela janela quebrada do vestiário do Palmeiras B, até a insatisfação da garotada com o resultado.
No tempo que a bola não rola você percebe a real essência do futebol, estando em lugares aonde os holofotes não chegam e pais, amigos, empresários, olheiros, ex-jogadores que não deram certo ao sair das categorias de base ou profissional se misturam aos torcedores comuns, além das músicas e escalação numérica do Juventus em italiano: “uno, due, tre...”. Um futebol atemporal.....
Outra curiosidade é ver treinador de Série A, como o vice-campeão Sérgio Soares, pelo Santo André, torcedor do Juventus e indo observar jogadores de um pequeno terraço ao lado do placar, nada eletrônico, mudando manualmente com CA Juventus x Visitante. Ao passar pela torcida palestrina foi recebidos com aplausos e elogios pela campanha do seu time, além de ouvir “meteram a mão em vocês na final!”, “deixa o Carlinhos com a gente”. Sérgio ria e fazia gestos corporais do estilo “fazer o que?”.
Já o Resultado de toda a raiva da diretoria do Palmeiras B foi um diretor passando mal e sendo sorrido pelos médicos. Espero que ele esteja bem, pois demonstrou ser profissional e um grande torcedor.
As emoções continuariam muito fortes na segunda etapa, mesmo para os corações enfraquecidos, com dois gols do “ainda atacante” Diogo, de cabeça e uma bomba no ângulo, após tumulto na grande área. Este era o ingrediente na pizza, ou macarrão, para o jogo pegar fogo! Somente não pegou literalmente devido a forte garoa, tipicamente paulistana, na Rua Javari.
Mas a partida caminhava para um tom dramático, de decisão, pois o Juventus precisava vencer para continuar com o sonho da A2. Para o Palmeiras B, o empate era suficiente. O clima de tensão estava estampado na cara dos 719 espectadores, exceto na organizada do time da Mooca. Seus adeptos merecem todo o respeito por cantarem e batucarem os 90 minutos. Sim, os 90 minutos!
Quando o atacante juventino, de difícil identificação, driblou Borges e chutou para o alto com o gol vazio, três senhoras, sentadas em cadeiras de praia, com sombrinhas, em cima da laje atrás das arquibancadas da meta, quase caírem de desespero. Isso sem contar que a bola geralmente era chutada na “casa do vizinho”. Um futebol, mais uma vez, atemporal!
Porém, contudo, todavia, por todo esse enredo, o inexplicável e inesperado aconteceu! As crianças e os grandes palestrinos nunca imaginariam que a expulsão do goleiro Borges, após confusão com o atacante Ricardo do Juventus (ambos saíram “na mão” com chutes, empurrões e agarrões, segundo a súmula do arbitro Thiago Duarte Peixoto), seria um “mal que veio para o bem”.
Com o Palmeiras B tendo realizado as três substituições, o artilheiro Diogo foi para a meta e um escanteio seria cobrado. Muitos nas arquibancadas estavam preocupados, porque até o goleiro juventino Luiz Gustavo foi para área. O corner é cobrado e Diogo agarra a bola sem deixá-la cair no chão. O então “goleiro” palmeirense chuta rápido e com força para o ataque......
......Estava por vir o fato mais incrível na vida dos, aproximadamente, 100 palmeirenses naquela tarde.....
.....a bola encobriu Luiz Gustavo, voltando desesperado para sua meta. A torcida angustiada, sem saber para onde iria à pelota. A torcida que permaneceu paralisada, com o olhar fixado na bola até ela entrar no gol. Muitos comemoravam. Muitos ficaram pensando por 1 segundo: “valeu?”, para depois comemorarem o gol de 100m do “goleiro” Diogo.
Um frenesi tomou conta dos 100 privilegiados. A emoção mais alucinante de suas vidas, pois todos estavam correndo, gritando, pulando, subindo no alambrado, não acreditando no que estava acontecendo. O tempo parou naquele instante! Nada mais importava, além daquele gol.
Em um certo momento, apenas ouvia minha voz, gritando, correndo pela arquibancada e subindo no alambrado. O resto parecia silencioso, como um filme mudo, onde todos comemoravam sem vozes ou barulho e eu não conseguia mais enxergar o rosto das pessoas próximas, somente enxergava todos celebrando. O silêncio só foi quebrado quando falei com o Obede ao telefone: “foi gol de goleiro!...gol de goleiro!”. Somente neste momento voltei a perceber o barulho ao meu redor.
Tenho certeza que na hora ele não me entendia muito bem. Conversávamos durante todo o jogo e o fui informando do andar do cotejo, pois este palestrino realizava uma grande cobertura do jogo via rede social Twitter, porque não pode comparecer nesta tarde épica.
O Twitter foi à ferramenta utilizada por torcedores do Juventus e Palmeiras para entender o que se passava na Rua Javari. Quase todos não entendiam os acontecimentos, mas caíram na real quando os fatos eram explicados detalhadamente: o gol de 100m!
A torcida comemorou o terceiro gol cerca de 10 minutos, devido o término da partida acontecer logo em seguida do tento. Os jogadores correram para abraçar Diogo, até o goleiro Borges saiu correndo do vestiário. A mascote Periquito invadiu o campo e quase “perdeu a roupa” nas celebrações.
O mais impressionante não foi o gol. Nem à distância e a forma com que tudo aconteceu. O mais impressionante foi à alegria das crianças com aquele gol, que ficará marcado em suas memórias para o resto de suas vidas. O gol que sempre irão contar aos filhos e aos netos: “quando eu tinha sua idade...”.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Uma tarde épica na Rua Javari
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7 comentários:
Que inveja! ahha como eu queria ter visto este jogo..
Futebol é isto.. e nada mais!
Pois é... o Obede não entendeu bem mesmo, porque não conseguiu nos contar direito o que havia acontecido! hahaha
De resto, lamento pelo Juventus. Um time de história, tradição e ficando na terceirona ao perder para um time B, que nem deveria existir!
Mas como eu ouvi esses dias, a diferença entre Palmeiras A e Palmeiras B é o Marcos. E agora entendo. A diferença é porque ele não faz gols de sua área! hahaha
Isso é o futebol. É isso q eu sempre falei sobre ver um jogo na Javari. Lá, as coisas mais inusitadas e interessantes acontecem.
Quem nunca viu um jogo na Javari não sabe o que é o verdadeiro futebol.
E o João falou tudo. Triste ver o Juventus assim, perdendo vaga pra um time B, q nem deveria existir.
E quanto ao dirigente das categorias do Palmeiras... ele realmente teve um infarte e faleceu hoje (sexta-feira), segundo informações do Benjamin Back, comentarista do Estadio 97!
Só um reparo no belo texto:
o vidro do vestiário do Palmeiras B foi quebrado por dentro, pelos próprios jogadores esmeraldinos, durante o intervalo. A participação da torcida juventina foi, como sempre, fazer muito, mas muito barulho mesmo, pra atrapalhar a concentração do visitante, nisso alguém do Palmeiras atirou algo contra o vidro da janela que dá para os baixios da arquibancada, para tentar afastar o público.
Segundo: lamento o ocorrido com o diretor palmeirense.
Morreu um diretor do Palmeiras?
Q bom! Um câncer a menos no futebol!
Parabéns pelo texto, mas é nesse caminho pra onde o futebol moderno caminha.
Na série A ficarão o trio de ferro paulista + o Santos e o resto time de empresários (prudente / redbull/ pão de açucar / corinthians b / palmeiras B e etc)
O verdadeiro futebol ficará nas divisões de acesso e eu digo, que assim fique para a eternidade e não se corrompa como esses nojentos que acabaram com o futebol.
abs
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